quarta-feira, 30 de junho de 2010

O Sofá (décima parte)

Vou te escrever aqui em minha crônica, assim não se saberá se é real ou não. Se é apenas o autor sendo mais intimista com o leitor e dessa forma tentando colocá-lo em contato com sua alma.

Sabe quando você pressente que vai chover, o gosto de terra molhada no ar, o céu ficando diferente... então chove. E você sai na chuva e se deixa molhar por cada gota de água que cai divinamente do céu!

É bom quando a chuva vem.

Eu te espero assim como espero a chuva. A chuva vem, porém com ela não vejo você... fico na varanda, sentado na cadeira velha de balanço, a olhar, a esperar, a imaginar sua chegada... seus cabelos molhados, sua roupa encharcada, por sua pele escorrendo as gotas da chuva... aí você para no portão e sorri. Sorri para mim e o tempo parece parar diante de nós, fitamos nossos olhares e dizemos tudo, não precisamos de palavras, pois há uma vida esperamos este momento e nada precisamos falar, nossos olhos balbuciaram, nossas mãos cochicharam, nossos lábios se encontraram e o beijo acontecerá. Aquele beijo que há tempos esperamos... um beijo diferente, com gosto de eterno unido ao presente, de passado concretizado no futuro... gosto de amor!

A chuva parou. E me dei conta que você ainda não chegou. Dentro de mim ecoa um grito mudo... no meu olhar, nas minha atitudes, nos meus sonhos. Gotas de chuva agora se misturam com minhas lágrimas... você não veio.

Apenas não veio. E eu permaneci sentado no sofá, tentando decifrar tudo isso.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

O Sofá (segunda parte)

É estranho quando mexem naquilo que é seu e nem ao menos pedem licença, como se fosse algo público. Aí fico cantarolando canções tão simples e simplesmente repito simples. A vida é tão simples. Pessoas a complica. Pessoas...pessoas...

O dia em que te encontrar seremos dois, eu e você seremos um.Então serei completo. Haverá alguém me esperando chegar. E a chegada não será mais estranha, ruim...e terá você pra me dizer que o sofá está no lugar, não o de sempre, mas em um diferente, que você o colocou.

Ainda continuam mexendo no sofá. E nem é seu, é meu! Está parecendo bochecha de bebê que todos querem apertar, beijar... e nem ao menos perguntam se podem, apenas fazem. E a criança ali sujeita aos apertões, expressões de bobos, dizendo gut, gut, gut... óh que coisinha mais linda...!

Arrastei de volta ao seu lugar, o som que fazia sobre o piso me incomodava, mas também por que foi tirá-lo do seu lugar! E depois dá trabalho para colocá-lo em seu canto. Isso ninguém vê. O lugar que o colocaram, terei que limpar e pensar o que vou por para preencher o vazio que deixou o sofá, se bem que não era ali seu lugar, mas agora fica aquele vazio...Quase que me acostumo com a novidade,pois tudo que é novo a principio desperta várias sensações: de perda, de ganho, de euforia, de estranhamento, de... tudo isso que você possa continuar elencando, das suas experiências com o novo. Que com certeza em algum momento será bem diferente das minhas. Pode ser que você nem ao menos iria notar que mudaram de lugar o seu sofá, não pediram permissão, e, se notasse não daria a menor importância. Vai que você é daquelas pessoas que se conformam com tudo, que não tem opinião própria, ou quando tem, senti medo de expressar suas convicções, ponto de vistas, enfim suas idiossincrasias...

Eu me importo mexeram e continuam mexendo no meu sofá! Poxa ele é meu. O que significa meu para você?

A mim que é meu e pronto! Só meu ninguém pode dizer onde devo colocá-lo, como devo sentar, deitar, ou até mesmo que cor de capa, eu posso ou não vesti-lo... E se dizem, não significa que tenho que fazer conforme a opinião do outro. De novo o outro na história. Esse outro é complicado, não é?! Sempre querendo botar o bedelho onde não é chamado, sempre querendo espiar sua vida, parece que não tem nada o que fazer! Pois eu tenho. E quando sou o outro, tento ser eu. Eu que não gostaria que mexessem em meu sofá sem minha permissão. Eu que não gostaria que ficassem me vigiando, me criticando. Eu que me colocaria no lugar do outro, para poder ser mais humano. Afinal não disse o sábio dos sábios, que é preciso amar ao próximo como a ti mesmo?! Então pense você, se chegasse à sua casa e visse que algo estivesse fora do seu lugar comum... Que intrometeram, apenas intrometeram em algo alheio. Já que sentar de vez em quando nele ou deitar te deixam, o que não significa que pode fazer com ele o que bem entender! Ele não é seu! O sofá é meu!

Mas e daí?! Que sofá é esse? A interrogação martela em minha mente.

O Sofá (nona parte)

Há tantas coisas que queremos falar não é?!

O problema é que muitas vezes não encontramos as palavras... muitas vezes nem as certas e nem as erradas e simplesmente ficamos com aquele sentimento estranho borbulhando em nossa alma.

Estava sentado em meu sofá quando os vi, ou será que sonhei?!

Mesmo assim vou te contar caro leitor dessa singela crônica, prosa, sei lá...ainda não sei o que isso é, portanto este texto.

Não sei se você já viveu uma paixão avassaladora, dessas iguais ou até melhores as dos filmes americanos?! Pois então ela se pegou dentro dessa redoma indomável e frenética que é a paixão. Ele apareceu do nada. Com seu jeito misterioso e instigador. Tudo não durou mais que dois dias inteiros, mas foi o suficiente para se entrelaçarem de uma forma assustadora, branda, singela como uma rosa e ardente como o gosto de pimenta. Seu toque, sua boca, seus ombros largos e braços fortes a envolveram, não de uma forma qualquer... e sim como um príncipe encantado, daquelas histórias em que um belo homem chega em seu cavalo branco e resgata a linda e indefesa donzela. Mas nesse caso ela não era indefesa, se bem que lá no fundo todos nós somos como crianças, que precisam de alguém que deixe a luz acesa do quarto,pois estamos com medo das sombras refletidas na parede, que a negritude noturna trás, ou para nos colocar no colo, quando simplesmente nos assustamos com alguma coisa e choramos...ou não?! Pode ser que você nem se dê conta que no mais intimo do seu ser há um ser frágil!

Ela agora se encontrava nos braços do seu príncipe, isso digo eu, já que tenho uma visão romantista da vida. E enquanto lhe conto essa história, real ou não, pois o que é real para mim nem sempre pode ser o mesmo para você, tudo depende com quais olhos enxergamos o do coração ou da razão endurecida de muitos... ouço Elephante de Damien Rice de forma repetidamente. Pois bem, a noite foi excitante, ele a beijou... foi apenas alguns segundos ou minutos talvez...Ah! Mas a ela foi como os segundos da eternidade, arrepiante, onírico, doce, caliente...enfim o beijo aconteceu depois de horas ali parados numa esquina qualquer, conversando sobre coisas ora fúteis, ora interessantes...olhares fitos um no outro a observar cadê detalhe de sua face, de seu corpo que a excitava, assim como excitava o dele, por dentro vi que naquele momento eram como dois adolescentes com um vulcão em erupção de tesão dentro de si!

Então esfreguei os olhos para ver se sonhava ou tinha uma visão. Estava apenas eu e meu sofá, então me ajeitei novamente nele e confortavelmente sorri... não um sorriso qualquer, mas um sorriso de quem delirou com tanta paixão!

E continuávamos ali eu e meu sofá!

Dedico a você...