sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Sofá (décima terceira parte)


 


O turbilhão de pensamentos que emanava em minha mente sessou.
Sinto falta da inspiração. Sinto falta do meu sofá.
Sabe aquelas coisas que acontecem e depois nada volta a ser como era antes? Pois bem dessa forma aconteceu. Ainda não encontrei o meu sofá.
Fico a imaginar se um dia o terei de volta ou se ao menos conseguirei encontrar um para substituí-lo. Todavia tenho comigo que nada é substituível de maneira igual ou superior ao que foi substituído. É meio que como um quebra galho, um adaptar-se...porém nunca o mesmo.
Há pessoas que acreditam que as coisas são substituíveis. Eu discordo.
Para mim é como o primeiro beijo, a primeira paixão, o primeiro amor, o primeiro dia de aula, a primeira vez (mesmo se ela tenha sido frustrante), o primeiro emprego... cito essas coisas pelo sentido que fizeram naquele momento, pelo sabor, pelo sentimento, pela magia, por todos os sentimentos envolvidos e despertados.
Eu despertei e não o encontrei mais. Ah! Meu sofá!
Já sentiu a falta de algo ou alguém que chega dói o coração ao rememorar? Então é dessa forma que me encontro o tempo todo. Tive que treinar os olhos para não chorar o tempo todo. Tive que treinar o rosto a não demonstrar a minha tristeza, tive que treinar meus lábios a sorrirem mesmo querendo prantear. Tive que reinventar-me. Mas não pense você leitor que sou falso ou mascarado. Não sou nada disso. Sou apenas um ser que teve que aprender a ser. Ser feliz, ser verdadeiro comigo mesmo, ser pra mim mesmo.
Em um dia que não foi um dia qualquer, porém não me recordo à data e também se recordasse não a descreveria, pois dessa forma vaga dá espaço para você imaginar o dia, a temperatura, o barulho da vida, carros, vozes, sons, música, as cores... descobri a força que há em cada ser humano. Mas que fica escondida e só aparece no momento exato, no qual realmente precisamos do super poder da força interior que reside em nós. Neste dia eu me sentei no meio fio de uma calçada vazia e mesmo que quisesse ser fraco e chorar não pude, já que a força interior resolveu aparecer e me ensinar algumas coisas. Então me levantei e recomecei a caminhar em busca do meu sofá.
Fostes o que era e não sabia. Já parou para pensar que existiram situações que você ficou surpreso consigo mesmo pela bravura, sabedoria, confiança, tranquilidade ou força com que conseguiu lidar com o empecilho? Por isso disse: fostes o que era e não sabia.
Termino assim.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

O Sofá (décima segunda parte)



Há muitas maneiras de resolver algum problema. Como há vários tipos de problemas.
Eu perdi o meu sofá.
Tenho andado a procura de um novo sofá. Porém não é fácil encontrar um novo, uma vez que se acostumou com aquele que se foi. Tanta coisa já viveu e ele foi ora expectador, ora protagonista de momentos bons e ruins. Aquele jogo decisivo do timão, aquela conversa secreta com a amiga. Aquele cochilo gostoso depois do almoço ou aquele amasso caliente com...Foram tantos que é melhor não comentar aqui.Rio neste momento, muitos podem não gostar, outros ficaram assanhadinhos... cada um sua reação particular, afinal é um segredo revelado. Tudo uma questão de idiossincrasias.
E voltemos ao sofá.
Ainda estou formulando luto. Por falar em luto...isso lembra morte.Óbvio não é?! Ou não...
Difícil é perder alguém e estou começando a ter certeza que mais difícil ainda, é perder alguém que continua vivo. Quando a perda acontece distância é como comer sem sentir o sabor...é caminhar e não sentir o chão...aquele aperto forte no coração.
Recostei-me na proteção da ponte, lá embaixo muitos carros vão e vem em alta velocidade, no fluxo contínuo de vidas anônimas. No céu o sol ainda brilha, mesmo que fracamente.
Fito o infinito. O tempo passa. O prenúncio do pôr-do-sol se mostra. De súbito viro-me e o sol se foi. Novamente perdido em meus pensamentos não o encontrei. Só me acompanha a saudade...
Terei que continuar esperando na escuridão, um novo dia, na esperança da saudade desaparecer.
Da viagem dos meus pensamentos voltei. O sofá que observava pela vitrine da loja, agora não me parece ser tão confortável como o de antes.
Então volto a caminhar em busca do meu sofá.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

O Sofá (décima primeira parte)




Como naqueles filmes onde alguém para e fica a olhar o caminhão de mudanças cada vez mais se afastar, assim me sinto. Parado fitando o infinito como se alguém estivesse partido. A ausência dentro em mim me entorpeceu. As coisas a redor não estão como antigamente. Os móveis foram levados no caminhão de mudanças.
Levaram até mesmo o sofá.
Parado estou. Tentando pensar no que pensar! E agora levaram o meu sofá!
Ou será que eu me desfiz dele?
Sabe quando chega aquele momento da vida, no qual temos que abrir mão de algumas coisas, que ocupam espaços desnecessários dentro de casa, ou no guarda-roupas...enfim, abandonei o meu sofá.Abandonar não sei se é a palavra correta. Estou tentando encontrar o correto a se dizer aqui. Ainda não encontrei, portanto vou devaniando... ou não.Quem sabe para você fará sentido ou terá um sentido diferente do meu ou do outro.Aquele outro...sempre existe o outro...o que admiramos, ou o que detestamos.O que nos ensina, ou o que só passa representando o outro na vida.
Estou à procura de um novo sofá.
Não sei ainda de qual cor. Não sei ainda de qual modelo. Não sei ainda de qual valor. Não sei ainda nem onde pôr. Só sei que de um novo sofá preciso.
Agora sentado a beira da estrada, brinco com umas pedrinhas à beira do meio fio da calçada. Agora à beira do caminho começo a enxergar coisas novas. Paro como um menino a contemplar...
Levaram o meu sofá.